E, como estou aprendendo com Bento XVI ao ler e reler,
página a página, o livro “Jesus de Nazaré – parte 2”, esta purificação é o que
toda a humanidade busca com todas as nossas religiões. Todavia, com Cristo
aprendemos que não somos nós que nos purificamos, mas é o próprio Deus que nos
purifica, nos santifica, nos justifica, nos consagra, nos salva na morte de
Jesus.
Todos nós cristãos sabemos que a salvação nós recebemos como
dom, de graça, pelo sacrifício de Jesus Cristo. Mas, quem sabe muitos de nós,
sabemos disto em nossa razão, e não transformamos isto em prática, pois se o
fizéssemos não falaríamos que buscamos nos conhecer, mas diríamos que nos
deixamos conhecer pelo Espírito Santo de Deus.
A novidade de Jesus Cristo, do Novo Testamento a nós
entregue, é que o Espírito e sua graça são a nova lei, conforme a Suma
Teológica de São Tomás de Aquino citada por Bento XVI no mesmo livro. É a graça de deixar
Cristo viver em nós por meio do Espírito Santo. “Já não sou eu quem vivo, mas é
Cristo que vive em mim”, consegue afirmar São Paulo. Esta é a salvação
dada a nós, a graça derramada sobre a humanidade: podemos deixar Cristo viver em nós.
E, sendo assim, já não preciso mais me preocupar tanto com minha escuridão,
porque o Cristo que vive em mim me ilumina, me forma, me transforma e, algum
dia, me transfigurará.
E a Palavra de Deus nos dá um grande exemplo de um coração
de pedra, teimoso, duro que é transformado na pedra angular de toda a Igreja,
nossa base. São Pedro Apóstolo, uma das duas colunas da Igreja, era impulsivo,
talvez não controlasse a própria ansiedade, inconseqüente, não media suas
palavras e atos e foi sobre ele que Jesus fundou sua Igreja.
Vejamos: Pedro não quer deixar Jesus lhe lavar os pés; Pedro
não aceita a idéia da morte de Jesus; Pedro usa da espada para tentar evitar
que Jesus fosse preso. Pedro diz para Jesus que dará a sua vida para segui-lo,
mas logo depois o nega três vezes. É verdade que nega porque queria estar perto
de onde Jesus estava, numa atitude que beira a loucura de quem não sabe mais o
que fazer, mas é o suficiente para ele se ver infiel, e só então aprender que
não era a sua hora, mas a hora de Jesus.
Deus ensinou Pedro a esperar a partir de sua própria
ansiedade: ele não podia deixar seu Mestre ser levado e, então, corre atrás, mentindo
para estar perto de Jesus. Mas acaba descobrindo na sua infidelidade que não é
ele quem faz seu caminho e que deve aceitar a manifestação de Deus. Aprende que
não somos nós que nos elevamos até Deus, mas é Deus em sua humildade que desce
até nós para nos servir e nos levar até onde muitas vezes não queremos, para
ali, por meio da fé, da esperança e da caridade se encontrar com o próprio
Deus.
Deus se faz servo para me tornar capaz de encontrá-lo, para
me purificar. O que me resta? Acreditar em Deus. A fé modifica meu agir porque
Deus se volta para mim e eu aceito seu olhar. O Espírito me abre o coração e a
inteligência e me santifica, me torna capaz de perceber Deus. A voz de Deus, a
Verdade, o Verbo encarnado me consagra, lava meus pés e me coloca no Caminho
para a Vida.
De que se trata nossa atração para o divino senão o próprio
Deus nos chamando e nos unindo a Ele? A minha vida é vontade de Deus! Não vim
ao mundo para eu crescer por minhas forças, mas para ser crescido por Deus. Aceitar
a obra de Deus em minha vida move-me para o transcendente que se realiza na
obra de amor aos meus. Dá-me, Senhor, fé para aceitar sua obra em mim, para permitir
que o Espírito atue em mim, para que seu amor se revele em mim, para que eu me
deixe conhecer por sua ação continuada e que minha fé na sua ação se transforme
em obra real de amor aos teus filhos e à tua criação.
Paulo Cesar Starke Junior
Paulo Cesar Starke Junior