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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Conhecer-se ou deixar-se conhecer

Dias atrás eu prestava atenção na quantidade de vezes que falamos que precisamos nos conhecer. Realmente é uma necessidade que percebemos cada vez maior enquanto vamos ficando mais experientes. Conhecer as profundezas do nosso ser, o fundo mais negro do nosso próprio poço, nossos sentimentos mais obscuros, nossos pensamentos mais inconscientes, todo nosso potencial e toda a nossa fraqueza. Cada ano que ganhamos em nossa vida almejamos mais este encontro conosco mesmo para poder se colocar puros diante de Deus.

E, como estou aprendendo com Bento XVI ao ler e reler, página a página, o livro “Jesus de Nazaré – parte 2”, esta purificação é o que toda a humanidade busca com todas as nossas religiões. Todavia, com Cristo aprendemos que não somos nós que nos purificamos, mas é o próprio Deus que nos purifica, nos santifica, nos justifica, nos consagra, nos salva na morte de Jesus.

Todos nós cristãos sabemos que a salvação nós recebemos como dom, de graça, pelo sacrifício de Jesus Cristo. Mas, quem sabe muitos de nós, sabemos disto em nossa razão, e não transformamos isto em prática, pois se o fizéssemos não falaríamos que buscamos nos conhecer, mas diríamos que nos deixamos conhecer pelo Espírito Santo de Deus.

A novidade de Jesus Cristo, do Novo Testamento a nós entregue, é que o Espírito e sua graça são a nova lei, conforme a Suma Teológica de São Tomás de Aquino citada por Bento XVI no mesmo livro. É a graça de deixar Cristo viver em nós por meio do Espírito Santo. “Já não sou eu quem vivo, mas é Cristo que vive em mim”, consegue afirmar São Paulo. Esta é a salvação dada a nós, a graça derramada sobre a humanidade: podemos deixar Cristo viver em nós. E, sendo assim, já não preciso mais me preocupar tanto com minha escuridão, porque o Cristo que vive em mim me ilumina, me forma, me transforma e, algum dia, me transfigurará.

E a Palavra de Deus nos dá um grande exemplo de um coração de pedra, teimoso, duro que é transformado na pedra angular de toda a Igreja, nossa base. São Pedro Apóstolo, uma das duas colunas da Igreja, era impulsivo, talvez não controlasse a própria ansiedade, inconseqüente, não media suas palavras e atos e foi sobre ele que Jesus fundou sua Igreja.

Vejamos: Pedro não quer deixar Jesus lhe lavar os pés; Pedro não aceita a idéia da morte de Jesus; Pedro usa da espada para tentar evitar que Jesus fosse preso. Pedro diz para Jesus que dará a sua vida para segui-lo, mas logo depois o nega três vezes. É verdade que nega porque queria estar perto de onde Jesus estava, numa atitude que beira a loucura de quem não sabe mais o que fazer, mas é o suficiente para ele se ver infiel, e só então aprender que não era a sua hora, mas a hora de Jesus.

Deus ensinou Pedro a esperar a partir de sua própria ansiedade: ele não podia deixar seu Mestre ser levado e, então, corre atrás, mentindo para estar perto de Jesus. Mas acaba descobrindo na sua infidelidade que não é ele quem faz seu caminho e que deve aceitar a manifestação de Deus. Aprende que não somos nós que nos elevamos até Deus, mas é Deus em sua humildade que desce até nós para nos servir e nos levar até onde muitas vezes não queremos, para ali, por meio da fé, da esperança e da caridade se encontrar com o próprio Deus.

Deus se faz servo para me tornar capaz de encontrá-lo, para me purificar. O que me resta? Acreditar em Deus. A fé modifica meu agir porque Deus se volta para mim e eu aceito seu olhar. O Espírito me abre o coração e a inteligência e me santifica, me torna capaz de perceber Deus. A voz de Deus, a Verdade, o Verbo encarnado me consagra, lava meus pés e me coloca no Caminho para a Vida.

De que se trata nossa atração para o divino senão o próprio Deus nos chamando e nos unindo a Ele? A minha vida é vontade de Deus! Não vim ao mundo para eu crescer por minhas forças, mas para ser crescido por Deus. Aceitar a obra de Deus em minha vida move-me para o transcendente que se realiza na obra de amor aos meus. Dá-me, Senhor, fé para aceitar sua obra em mim, para permitir que o Espírito atue em mim, para que seu amor se revele em mim, para que eu me deixe conhecer por sua ação continuada e que minha fé na sua ação se transforme em obra real de amor aos teus filhos e à tua criação.

Paulo Cesar Starke Junior