Páginas

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

40 anos de Enlace Matrimonial de Paulo e Elizete Starke

Meus irmãos deram a mim, Paulo Cesar Starke Junior, a incumbência de escrever algo por ocasião da festa de 40 anos de enlace matrimonial de nossos pais, Paulo e Elizete.

Gostaria de poder escrever por nós quatro, mas um texto não consegue nunca deixar de ser do seu autor. Podemos nós quatro assinarmos, mas o texto será do meu ponto de vista, da minha história que vê a história deste casal que nos deu a vida em primeiro lugar.

E penso que devo começar por este ponto: da nossa vida! A começar pela minha: existo porque estes dois escolheram para si um caminho que poucos do nosso tempo escolhem. Uniram-se em casamento me aceitando ainda muito jovens, com dezenove e dezessete anos. Eu não preciso imaginar quanto renunciaram para unir-se, quantos desafios, medos, raivas, frustrações enfrentaram. Não preciso imaginar porque mesmo sem ver eu sei como foi. Sei porque a história deles que eu conheço é suficiente para eu saber que foi muito alegre, feliz e carregado de sonhos aquele dia 08 de janeiro de 1977, assim como foi cheio de medos e com a certeza de que teriam que lutar e trabalhar muito. Começava uma família do nada, só do amor, da vontade de vencer, trabalhar e se doar. Eu ganhei minha vida porque estes jovens resolveram que tinham que vencer o que naquele momento se apresentava. Não importava mais o que seus pais e irmãos diziam, julgavam, pensavam. Importava somente que eles tinham agora um objetivo para vencer. E perdendo um pouco de suas vidas eu fui ganhando a minha.

Bem, meus irmãos talvez tenham mais lembranças da primeira infância do que eu. Lembro muito pouco além daquilo que as fotos registraram, mas o que lembro é suficiente para eu saber que a vida dos meus irmãos também veio de mais vida dada pelos nossos pais. Lembro vagamente de eu, só um ano mais velho, levar o Márcio para a escolinha das Irmãs da Santa Paula. Lembro do meu pai deitado numa cama com um monte de gesso no corpo quando a Daniele ainda era muito pequena. Lembro muito vagamente do carro que ele bateu, e lembro de uma imagem do carro batido. Como não lembro de fotos deste carro, creio que esta imagem do meu pai arrebentado e do carro muito amassado me marcaram. Lembro de alguém tirando faixas de sua perna cheia de pontos. Lembro de dias tristes que minha mãe estava longe. Diziam pra mim que ela estava no hospital e que logo iria voltar, mas acho que demorou muito. Muitos e muitos dias eu e meu irmão Marcio dormindo em nossa tia. E onde estava a Daniele? Não sei. Só sei que foram dias que minha família estava toda separada porque alguém estava lutando muito para viver, e este alguém tinha um homem que nunca vi abandoná-la... Nunca vi abandoná-la! Creio que nestes dias todos o Tiago ainda não tinha nascido porque lembro de conversas quando já estávamos juntos de que o nascimento do Tiago foi envolto de dificuldades. Não sei ao certo, mas sei que foram mais dores para que mais uma vida viesse ao mundo, e mais incertezas. Mesmo assim deste tempo só lembro coisas boas. Lembro do pai chegando em casa com uma Kombi da empresa onde ele trabalhava. Eu gostava tanto daquela Kombi com caçamba... E uma vez vi sobre ela um presente para mim. Era um caminhão que eu estava ganhando do meu avô. Lembro-me da escola, lembro que eu tinha a incumbência de vez em quando pegar um kit de alimentação na escola. Lembro com alegria dos dias que eu ia andando no supermercado ficar na fila do leite. Lembro da minha mãe levantando muito cedo para me ensinar a pegar um ônibus. Lembro da alegria grande dos meus pais quando eu ia bem nas provas. Lembro muito que o pai e a mãe sempre falavam que eu tinha que estudar muito.

Bem, nestas alturas vocês já perceberam que minha memória confunde as coisas no tempo, pois alguns destes fatos foram antes do Tiago nascer e outros depois. Mas não importa a cronologia. Importa o que eu e meus irmãos fomos aprendendo e o que fomos ganhando: nossa vida! Era tão bom quando o pai resolvia deixar a gente pular em cima dele no sofá mesmo que fosse a hora do Jornal Nacional!

Sei que o pai gostava muito, e acho hoje que foi bom que não fosse todo dia. Lembro também de quando o pai estava desempregado e não parava de tentar vencer. Lembro da Kombi do camarão. Fui nela com ele andar pelo Santa Paula. Conheci ruas do nosso bairro que até então eu não conhecia. Foi um tempo muito difícil pelos relatos que escuto. Lembro que não podia sobrar nenhum grão de arroz no prato... tínhamos que aprender a dar valor para o alimento que tínhamos. Lembro que o pai me falou que eu só estava na mesma escola porque deram um bom desconto ou algo assim.

Acredito que foi um tempo de muitas incertezas para o Paulo e Elizete. Mas eles tinham suas vidas e de mais quatro filhos. Tinham que lutar, mesmo que sem toda saúde, e tinham que ter uma família estruturada e feliz. Talvez desta fase da minha vida eu tenha aprendido os maiores valores que até hoje eu tenho pra mim: não existe esforço que não tenha que ser feito para fazer crescer sua família; trabalhar é o que um homem tem que fazer, e ficar ao lado da esposa sempre, sempre que esta precisar.

Vejam que são valores que eu aprendi a partir de gestos, não a partir de palavras.

Aliás, para escrever este texto fiquei tentando lembrar de uma grande frase do meu pai e da minha mãe. Não lembrei. E não lembrei não porque eles não falassem, mas porque o que sei eu não aprendi ouvindo eles, mas vendo eles fazerem.

Quatro filhos pequenos, dificuldades de saúde, dificuldades de trabalho, e o que vi foi um casal que sempre trabalhou para conquistar e vencer, não por eles, mas pelos seus filhos.

Se bem que com alguns erros: até hoje lembro do carrinho de controle remoto Máximus que eu o e Márcio queríamos e o pai não comprou, acredito que pelo mesmo motivo que hoje eu compro aquilo que é prático, que está à mão. Ele acabou comprando umas coleções da "Super Máquina" e do "Esquadrão Classe A". Bem, pai, eu lembro do Máximus e talvez um dia ainda você possa comprar para mim.

Mas o que falar quando ganhei uma bicicleta Caloi Cross num Natal, onde o meu presente foi o último a ser dado? Quanta ansiedade! Meus pais souberam nos encantar!

Lembro do quanto ficou marcado uma boneca pra Daniele, e um castelo ou casa que ela (ou a mãe!) queria!! E os patins da Daniele, então?! Quanto falatório pelos tais patins! Por outro lado lembro da frustração do Márcio por não ganhar o Motorama! Mas, Márcio, tinha uma grande explicação racional: o Motorama era frágil e estragava com facilidade: Ferrorama era melhor! Bem, neste caso o Márcio não se encantou muito, mas ele teve outros momentos.

O Tiago? Bem... do Tiago foi diferente. Como irmão mais velho, e sete anos mais velho, acho que o Tiago ganho tudo que sempre quis!!! Risos!!!! E ele já tinha os videogames!! É o irmão caçula!

Bem, vamos para a adolescência: aí as lembranças aparecem com mais facilidade. Poderia falar de várias, mas o que importa é: sempre fizeram até o que não podiam para termos e fazermos o queríamos e o que precisávamos. E de lá para cá tem sido assim até hoje: ajudando seus filhos a vencerem na vida.

Do meu ponto de vista, de um filho, eu não poderia falar destes 40 anos sem colocar os filhos no centro da história. Sei que o casamento de vocês é muito mais do que os filhos, muito mais. Vocês lutaram por suas vidas. E venceram muitas dificuldades. Vocês lutaram por emprego. Vocês lutaram pelas casas que já tiveram. Vocês lutaram para construir um patrimônio. Vocês lutaram para ter um lugar para viverem esta fase da vida já com os netos. Vocês lutam para cuidar também dos netos. Vocês têm a vocês. E o que conseguiram com tanta luta foi crescerem nas suas almas, mas especialmente o que conseguiram foram quatro filhos que amam demais vocês dois porque devem tudo a vocês, tudo o que somos devemos a vocês! Tudo o que somos é só por causa de vocês e suas dores, flores e amores. Só podemos dizer obrigado a Deus, porque dizer obrigado a vocês é muito pouco. Não há palavras que possam agradecer todos os gestos que nas suas vidas vocês fizeram para ter a família de vocês e seus filhos. Então só gestos da nossa parte é o que importam agora. Espero e, acredito, nós quatro esperamos acertar nos nossos gestos para retribuir um pouco do que fizeram por nós.

Te amamos!

Paulo Cesar Starke Junior
Marcio Roberto Starke
Daniele Starke
Tiago Rafael Starke

Nenhum comentário:

Postar um comentário