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sábado, 6 de março de 2021

O monólogo da Campanha da Fraternidade, da CNBB, dos bispos e seus assessores

Mais um artigo meu publicado na Gazeta do Povo, agora falando da Campanha da Fraternidade 2021!

O monólogo da Campanha da Fraternidade, da CNBB, dos bispos e seus assessores Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/o-monologo-da-campanha-da-fraternidade-da-cnbb-dos-bispos-e-seus-assessores/

Texto na íntegra abaixo:


O monólogo da Campanha da Fraternidade, da CNBB, dos bispos e seus assessores

Deixei de lado os discursos entusiasmados a favor e contra o texto-base da Campanha da Fraternidade 2021, texto este publicado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e de autoria do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic), e resolvi ler o material inteiro. Não deixei de enviar minhas conclusões para os líderes da Igreja Católica local, sugerindo, sim, explorar o tema e o lema da Campanha da Fraternidade durante a Quaresma, mas sugerindo também abandonar por completo o texto-base publicado.

O tema da campanha é “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor”, e o lema é “Cristo é nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”. Verdades caras para nós, cristãos; e são, sim, razão de nos constituirmos como Igreja também. Por outro lado, nenhuma campanha se faz somente com tema e lema. Já são décadas de caminhada da Igreja com a Campanha da Fraternidade e todos sabemos que o que se almeja é também, durante um tempo propício, a Quaresma, conduzir o povo em direção a algo pré-definido. Desta forma, é grande a responsabilidade dos autores dos materiais divulgados para todo o Brasil. E, diante do atual texto-base, no dia em que li, providencial foi deparar-me com um trecho do Evangelho de São Marcos em que Jesus adjetiva de “hipócrita” um grupo de pessoas: primeiro Jesus ataca o grupo, e depois explica seus motivos. Um pouco diferente do que pregamos quando queremos o diálogo, mas é o próprio Jesus quem o faz.

Hipócritas os fariseus e outros grupos que se afastam da essência da Lei por meio de suas tradições e regras. Talvez muitos conservadores, hoje, também seriam chamados de hipócritas por Jesus. Mas e o outro lado, os chamados “progressistas”, como seriam chamados hoje?

O texto-base da Campanha da Fraternidade 2021 deve ser jogado na lixeira por inteiro. É ruim do início ao fim. Nada tem de diálogo. É um monólogo “progressista” que distorce dados e passagens bíblicas para colocar para o leigo cristão uma narrativa, de novo, de luta de classes, que já cansou minha pouca inteligência católica. O viés de análise dos parágrafos 9 e 10 do texto-base, por exemplo, é claro: atribuído sentido conforme conveniência de quem está narrando. A carta de apresentação do documento claramente delimita o “diálogo” para o que um dos polos da luta de classes quer. Ora, se é diálogo, não deveríamos ter pontos e contrapontos defendidos, sob todos os aspectos, notadamente num documento que quer ser ecumênico (universal, de todos) e unir o que está dividido?

E a sempre presente manipulação dos dados: ah, os dados, de novo eles! Nenhum dos dados apresentados, no que é chamado de “contexto atual”, pode ser considerado. Como podem aprovar um texto deste? Como a CNBB, com toda a sua estrutura, pode ter aprovado um texto como este? Repito: nenhum dos dados representa nossa realidade, e isso que minha visão não alcança tanto assim. Fico triste por ver nossos bispos aprovando e publicando um texto assim. Eu pretendia escrever este texto falando dos assessores dos bispos que, com certeza, são os responsáveis pela revisão do texto-base. Mas resolvi, embora doa-me, como filho da Igreja, falar de nossos bispos, responsabilizá-los diretamente. Foram tantos defendendo a publicação que não dá para simplesmente dizer que são os assessores. Nossos bispos resolveram admitir que houve equívoco, especialmente quando falaram da forma como o texto aborda a ideologia de gênero. Sim, este foi um equívoco grande da CNBB ao aprovar a redação final. Mas não é só isso. O texto todo deve ir para a lixeira de qualquer paróquia.

Eu diria que os padres nem sequer deveriam autorizar que as equipes de canto entoem o hino da campanha, para não promover a campanha como ela se apresenta. Deveriam dizer claramente que querem falar sobre o tema e o lema da mesma; que querem, sim, em nível local, também dialogar sobre nossa realidade com as igrejas cristãs que estão também celebrando a unidade conosco; mas que não admitem o texto-base em nossas comunidades. E nossos bispos deveriam, sim, admitir um grande erro ao publicar este documento, ao permitir a construção de toda a campanha deste ano pela equipe que o fez. Resolveram dizer que “há algo de bom no texto-base”. Não há.

Voltando aos dados, vou me deter em dois deles, que são, a meu ver, os mais gritantes: conduzir à conclusão de que há racismo estrutural no Brasil porque 54,96% dos encarcerados são pretos ou pardos é chamar os leitores e homens de boa fé de burros: 56% da população brasileira (dados do IBGE/Pnad) se declara preta ou parda. Então, proporcionalmente, temos menos pretos ou pardos presos do que brancos. Eu fico chocado com tanta presunção das pessoas que manipulam dados sem saber fazer análise alguma. Há tanto para falar sobre o racismo e nossos problemas sociais em torno do tema, e o texto-base se resume a apresentar os pretos e pardos presos como vítimas de um sistema que, segundo os autores, é claramente “seletivo e racista”, responsabilizando a “decomposição ética da gestão pública”. Eu, como conhecedor da gestão de empresas públicas e privadas, me enojei com a afirmação do Conic e da CNBB.

O segundo dado que quero denunciar é o utilizado para concluir que as mulheres são alvo de violência estrutural no sistema, excluindo-as de benefícios sociais. Segundo o texto, usando dados do IBGE, 70% das empregadas domésticas estão na informalidade. Ora, estão na informalidade porque são diaristas e trabalham para várias famílias diferentes, e porque não foram instruídas a abrir um CNPJ que lhes garanta benefícios mínimos, como deveria ser neste caso. Quantos de nós, da classe média, contratamos diaristas com CNPJ? E não o fazemos por quê? Por que acreditamos que a mulher diarista, que presta serviços domésticos, é de segunda categoria e não merece benefícios? Ou é porque na informalidade elas ganham mais imediatamente, em detrimento do futuro? Quantos de nós, na verdade, incentivamos esta situação de informalidade?

E não vou perder tempo comentando todos os parágrafos que falam com forte viés sobre a situação que vivemos no Brasil desde março de 2020. Para usar a mesma expressão do documento: “estou parado e com o rosto sombrio” diante do convite ao monólogo apresentado pela CNBB. Brincam comigo e com os católicos e cristãos de boa fé! Este texto-base todo é um lixo que fomenta a luta de classes, a velha luta de classes comunista! Hipócritas! Falam de diálogo e unidade, mas querem segregar em classes e brigar. E sou eu, não Jesus, quem está chamando de hipócritas este grupo de “progressistas” que se fecham ao diálogo.

Eu não estou nesta luta de classes e não vou entrar. Sou bancário e meu salário, que sustenta minha família, vem diretamente dos juros cobrados pelo banco onde trabalho. Na luta de classes, eu sou o lado mau segundo o texto publicado pela CNBB. Já cansei de escutar isto. Humildemente sofro como cristão. Sou trabalhador e também mereço respeito por parte da minha Igreja.

Nada doarei no Domingo de Ramos. O que farei, sim, é aumentar minha contribuição do dízimo neste mês e deixar mais recursos para a minha comunidade paroquial, que poderá aplicar melhor em projetos locais. Eu preferia estar discutindo os reais problemas sociais do Brasil e não toda esta esquizofrenia monóloga dos socialistas que assessoram nossos bispos.

À CNBB: escute, por favor, outras pessoas. Vocês estão escutando os mesmos há pelo menos 50 anos. Não é hora de realmente dialogar e derrubar os muros?

Paulo Cesar Starke Junior é contador. 

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

CNBB de novo!

De novo, decepção com CNBB! De que adianta um debate com bispos fazendo perguntas se as perguntas feitas são as mesmas que a Globo faz? Minha Igreja é Santa, mas está cheia de líderes que não se preocupam tanto assim com a santidade! Perdi tempo ontem a noite!

Para discutir os temas que foram objeto do debate, já temos fórum suficiente na sociedade. O que não temos e que precisava de vir de nossos líderes da Igreja seriam questionamentos relevantes como: há propostas concretas dos senhores candidatos para reforma da previdência: nos últimos dois anos falou-se muito em uma previdência única, igual para todos os brasileiros, incluindo militares e funcionários públicos; justamente, nós da Igreja nos preocupamos com cortes previdenciários na parcela mais pobre da população, mesmo que isto viesse com o conceito de igualdade proposto. Assim, como pensam os senhores em promover justiça social mantendo a previdência com seu caráter social para os mais necessitados e cortando das parcelas da população que são hoje favorecidas? Vocês estabelecerão teto previdenciário para funcionários públicos, militares, juízes, promotores, legisladores? Terão que contribuir com o mesmo tempo de serviço e terão que respeitar a idade mínima? O teto será igual ao da iniciativa privada, hoje um pouco acima de R$ 5 mil?

Será que é demais esperar que a Igreja pense em real justiça social, numa sociedade mais santa?

É verdade que a salvação não virá deste mundo. Mas, pelo que me recordo, profetizar faz parte da nossa missão de cristãos. E eu espero sim bispos profetas neste nosso Brasil! Não bispos que só profetizam quando determinado partido sai do governo, por conveniência.

Paulo Cesar Starke Junior

quinta-feira, 26 de abril de 2018

Roteamento por Processo no Linux

Uma abordagem simples para a seleção de tabela de roteamento por processo ou grupo de processo pode ser alcançada através do uso do iptables, cgroups e políticas de roteamento.

Para esse mesmo fim, pode-se, alternativamente, criar um network namespace para utilizar uma outra pilha de rede, com suas tabelas de roteamento, regras de firewall e dispositivos de rede, mas é um processo mais complexo que exige a utilização de veth pairs e bridges.

No CentOS 7.4 é possível realizar o roteamento por processo sem a necessidade de instalação de pacotes adicionais.

Primeiramente é necessário criar uma nova tabela de roteamento, adicionar a rota default nessa tabela e criar uma política de utilização dessa regra. Nesse caso, a política aplicada será que todos os pacotes marcados pelo iptables utilizarão a nova rota.

echo 11 new_route >> /etc/iproute2/rt_tables
ip rule add fwmark 11 table new_route
ip route add default via 192.168.10.1 table new_route


Posteriormente cria-se uma regra no iptables para marcar todos os pacotes de um determinado grupo de processos.

iptables -t mangle -A OUTPUT -m cgroup --cgroup 0x00110011 -j MARK --set-mark 11
iptables -t nat -A POSTROUTING -m cgroup --cgroup 0x00110011 -o eth0 -j MASQUERADE


Cria-se um grupo de controle para o controlador net_cls.

mkdir /sys/fs/cgroup/net_cls/new_route
cd /sys/fs/cgroup/net_cls/new_route
echo 0x00110011 > net_cls.classid

E finalmente desabilitamos o reverse path filtering:

sysctl net.ipv4.conf.all.rp_filter=0
sysctl net.ipv4.conf.eth0.rp_filter=0
sysctl net.ipv4.conf.eth1.rp_filter=0


Ao lançar um processo, você pode incluí-lo no grupo de controle new_route simplesmente adicionando o seu PID no arquivo /sys/fs/cgroup/net_cls/new_route/tasks

cd /sys/fs/cgroup/net_cls/new_route 
echo $PID > tasks

Para removê-lo do grupo, escreva seu PID em /sys/fs/cgroup/net_cls/tasks.
Lembre-se que os processos filhos de um processo em um grupo de controle também pertencem ao mesmo grupo de controle.

Você pode ainda lançar um processo já nesse grupo utilizando o comando cgexec. Para deletar o grupo, utilize o comando cgdelete.

Para remover as regras de firewall criadas, substitua o -A por -D. E para limpar a nova tabela de roteamento e remover sua política, utilize os comandos:

ip route flush table new_route
ip rule delete fwmark 11 table new_route

E isso é tudo, pessoal!

Referências:
https://www.evolware.org/?p=369
https://superuser.com/a/1048913

quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Sobre a Digitalização de Livros

Uma atividade comum entre os pais educadores é a digitalização de livros ou atividades para seus estudantes. Algumas vezes desejamos preservar um livro consumível para uso posterior com outro estudante ou talvez recuperar um livro antigo em mau estado de conservação.

Para aqueles que possuem problemas respiratórios então, livros antigos são propícios a desencadear ataques de espirros ou asma. E falo por experiência própria. Não é possível entrar em um sebo sem uma boa dose de anti-histamínico.

Para tentar diminuir esse tormento, decidimos recuperar alguns livros em formato digital. Chegamos até a imprimir cópias de livros que achamos relevantes. No começo utilizávamos o scanner de uma impressora multifuncional. Possuímos uma antiga impressora com ADF (Automatic Document Feeder - Alimentador Automático de Documentos) que facilita muito o trabalho de alimentação das páginas a serem digitalizadas. É uma funcionalidade muito boa, mas necessita que as folhas estejam soltas, pois cada folha é puxada individualmente para o scanner. E essa multifuncional não possui um scanner duplex, ou seja, cada folha precisa passar duas vezes pelo processo de digitalização para obtermos a cópia de ambos os lados.

O primeiro passo, então, é cortar o livro. Como guilhotinas para grandes quantidades de páginas são muito caras, resolvi desmontar os livros separando em livretos. É fácil perceber onde separar ao olhar as bordas das páginas perto da lombada do livro. Corto o livro com um bom estilete. Após isso, corto a borda dos livretos com o próprio estilete utilizando uma régua, separando as folhas. É bom ter cuidado para manter as páginas de todos os livretos no mesmo tamanho.




Separadas todas as folhas, passo para o processo de digitalização. No Linux, utilizo o programa XSane. Prefiro realizar a cópia na melhor qualidade possível, pois é mais fácil realizar os ajustes por software depois se a cópia estiver boa. A saída do XSane são imagens PNM (portable anymap format) que facilmente converto para JPEG (Joint Photographic Experts Group) utilizando a seguinte linha de comando: "for img in *.pnm; do convert $img $img.jpg; done".

Então passo ao pós processamento das imagens para pequenas correções, como divisões das colunas, orientação e alinhamento. Para isso utilizo o software Scantailor. A saída do Scantailor são imagens do tipo TIFF (Tagged Image File Format). Para transformar as imagens em PDF (Portable Document Format), utilizo um script de conversão de imagens para PDF que permite redimensionar as imagens para o tamanho A4, o que facilita a impressão. O script está disponível aqui.

Após isso, utilizo um programa para reconhecimento do texto a fim de possibilitar a busca textual dentro do pdf. Para tanto, uso o programa pdfsandwich. O comando exato é esse: "pdfsandwich -nopreproc -rgb -lang por arquivo.pdf". É necessário que o programa tesseract esteja instalado, pois é ele que fará o Reconhecimento Ótico de Caracteres ou OCR (Optical Character Recognition).
   
E com isso o trabalho de recuperação do livro está completo. Coloco aqui um exemplo do resultado deste trabalho, apesar do conteúdo do livro ser deplorável, pois há erros ortográficos em demasia.

sábado, 2 de dezembro de 2017

Lembrança do Seminário Mãe de Deus

Dias atrás estive em Irati, no Seminário Mãe de Deus, reencontrando os amigos da época em que fui seminarista.

Tive também a alegria de reler alguns textos e encontrei os abaixo, de minha autoria e que compõem um dos livros que escrevemos na época (1992). Eu tinha 15 anos.









Paulo Cesar Starke Junior

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

V Seminário da Vida

Sou um dos responsáveis pela realização do Seminário de Valorização e Promoção da Vida, evento da Arquidiocese de Curitiba, promovido pela Comissão Família e Vida da Arquidiocese, e que neste ano está na sua 5ª edição.

A respeito deste V Seminário da Vida, realizado em 01/10/2017, veja no link abaixo declarações dos organizadores e palestrantes, incluindo um trecho da entrevista que concedi:

http://arquidiocesedecuritiba.org.br/2017/10/04/saiba-como-foi-o-v-seminario-da-vida-realizado-no-ultimo-domingo/

Paulo Cesar Starke Junior

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Entrevista para Gazeta do Povo sobre o BRDE

Neste mês tive a oportunidade de ser entrevistado pela Gazeta do Povo, a respeito de possível federalização do BRDE - Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul.

Link para reportagem: http://www.gazetadopovo.com.br/politica/parana/o-assunto-foi-zerado-diz-vice-presidente-do-brde-ao-negar-rumor-de-venda-do-banco-e4cxwm7jg70cvy1i543we9wx4

Paulo Cesar Starke Junior

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Bancos públicos, políticas públicas e o BRDE

Artigo meu e de minha colega de BRDE, Tatiana Henn, publicado nesta data na Gazeta do Povo, sobre a importância estratégica em manter um banco de desenvolvimento próprio para a Região Sul.

http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/bancos-publicos-politicas-publicas-e-o-brde-6vw6iull0k8mmv41mxlvazfw3

Paulo Cesar Starke Junior

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Palacete dos Leões

A empresa onde trabalho, o BRDE, é proprietário e mantém o Palacete dos Leões. Conheçam abaixo um pouco do trabalho que fizemos neste semestre. Dou uma pequena entrevista na reportagem.

http://g1.globo.com/pr/parana/videos/t/paranatv-1-edicao/v/palacete-dos-leoes-em-curitiba-passa-por-restauracao/6060968/

Paulo Cesar Starke Junior

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Alexandre e Eu

Tempos distantes estão além do horizonte. A memória, porém, traz estes tempos para o coração, e recorda-se a alma.

Conto para você, através do papel, o que me está na alma. Narrarei a história de um cavalo, Bucéfalo, que reconheço como sendo minha própria pessoa.

O sol quase não brilhava. A Macedônia vestia neve branca e fofa da estação mais fria do ano bissexto que era. A minha ferradura gelava no casco. O frio castigava os animais tosquiados, e eu, exausto, tentava libertar-me da moda, a rédea de couro.

Faixas de couro estalavam-me no lombo. O frio fazia arder os ferimentos causados pelo chicotes dos domadores do rei, a quem eu pertencia. No meio de todos os homens que riam e assistiam, vi um jovem príncipe. No meio do tropel, ouvi sua doce voz.

Os cachos castanhos do jovem caíam sobre seu rosto calmo, pálido e confiante. Tinha olhos castanhos e um olhar doce e penetrante. Seus lábios delicados movimentaram-se e soltaram ao vento frio doces palavras que diziam: “Não tenha medo, sou Alexandre, seu amigo!”

Aproximei-me de meu amigo, Alexandre.

“Serei teu amigo”, disse-me Alexandre, “não vou te chicotear, como todos os homens fazem.”

Ele passou suavemente a mão sobre meu focinho. Colocou delicadamente a sela sobre meu lombo e, de repente, montou.

Assustado, fugi rapidamente para a floresta, tomando o cuidado de não deixar Alexandre cair ou bater-se nos galhos mais baixos.

Cansado da corrida, parei. Alexandre me dominou e fomos até o rei, a doma estava realizada. Ouvi Alexandre falar com o rei.

“Bucéfalo é seu, filho”, disse o rei da Macedônia.

Alexandre, agora, é o meu mestre, e eu, o equídeo mais feliz já visto na face da terra. Isso é o que me está na alma.

(Texto produzido como prática de escrita conforme sugestão do livro Writing & Rhetoric — L. S. S.)

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Alexandre e o Bucéfalo

Um dia, o rei Felipe da Macedônia comprou um ótimo cavalo chamado Bucéfalo. Ele era um animal nobre, e o rei pagou um alto preço por ele. Mas o cavalo era selvagem e feroz, e nenhum homem conseguia montá-lo ou fazer qualquer coisa com ele.

Eles tentaram chicoteá-lo, mas isso só o fez ficar pior. Finalmente, o rei disse a seus servos para levarem-no embora.

— É uma pena arruinar um cavalo tão bom como este — disse Alexandre, o jovem filho do rei. — Estes homens não sabem como tratá-lo.

— Talvez tu possas fazer melhor do que eles — disse seu pai, desdenhando.

— Se Vossa Majestade somente me desse liberdade para eu tentar — disse Alexandre —, eu conseguiria lidar com este cavalo melhor do que qualquer outro.

— E se falhares ao fazer isso, o que será? — perguntou Felipe.

— Eu pagarei o valor do cavalo — disse o rapaz.

Enquanto todos estavam rindo, Alexandre correu até Bucéfalo e virou a cabeça do cavalo em direção ao sol. Ele percebeu que o cavalo estava com medo de sua própria sombra.

Ele então falou gentilmente com o cavalo e o acariciou com sua mão. Quando ele acalmou Bucéfalo, Alexandre deu um salto ligeiro e sentou-se sobre o dorso do cavalo.

Todos esperavam ver o menino morrer instantaneamente. Mas ele permaneceu em seu lugar e deixou o cavalo correr o mais rápido que ele conseguia. Finalmente, quando Bucéfalo ficou cansado, Alexandre o dominou e cavalgou para o lugar onde seu pai estava.

Todos os homens que estavam lá gritaram quando eles viram que Alexandre tinha provado ser o mestre do cavalo.

O rapaz saltou para o chão, e seu pai correu e o beijou.

— Meu filho — disse o rei —, a Macedônia é um lugar muito pequeno para ti. Tu deves procurar um reino maior que seja digno de ti.

Depois disso, Alexandre e Bucéfalo se tornaram os melhores amigos. Diziam que eles sempre estavam juntos, que quando um deles era visto, o outro com certeza não estaria muito distante. Mas o cavalo nunca permitiria qualquer outro montá-lo, somente seu mestre.

Alexandre se tornou o mais famoso rei e guerreiro que já se conheceu; e por esta razão, ele é sempre chamado de Alexandre, o Grande. Bucéfalo o carregou por muitos países e muitas batalhas violentas, e mais de uma vez ele salvou a vida de seu mestre.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

A CNBB e a reforma da Previdência

Faço neste artigo uma reflexão sobre Nota da CNBB a respeito da Reforma da Previdência. "Não gostamos que critiquem nossa fé quando desconhecem as suas raízes; o que, então, nos dá o direito de falar sobre o que não conhecemos em verdade?"


Paulo Cesar Starke Junior

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

40 anos de Enlace Matrimonial de Paulo e Elizete Starke

Meus irmãos deram a mim, Paulo Cesar Starke Junior, a incumbência de escrever algo por ocasião da festa de 40 anos de enlace matrimonial de nossos pais, Paulo e Elizete.

Gostaria de poder escrever por nós quatro, mas um texto não consegue nunca deixar de ser do seu autor. Podemos nós quatro assinarmos, mas o texto será do meu ponto de vista, da minha história que vê a história deste casal que nos deu a vida em primeiro lugar.

E penso que devo começar por este ponto: da nossa vida! A começar pela minha: existo porque estes dois escolheram para si um caminho que poucos do nosso tempo escolhem. Uniram-se em casamento me aceitando ainda muito jovens, com dezenove e dezessete anos. Eu não preciso imaginar quanto renunciaram para unir-se, quantos desafios, medos, raivas, frustrações enfrentaram. Não preciso imaginar porque mesmo sem ver eu sei como foi. Sei porque a história deles que eu conheço é suficiente para eu saber que foi muito alegre, feliz e carregado de sonhos aquele dia 08 de janeiro de 1977, assim como foi cheio de medos e com a certeza de que teriam que lutar e trabalhar muito. Começava uma família do nada, só do amor, da vontade de vencer, trabalhar e se doar. Eu ganhei minha vida porque estes jovens resolveram que tinham que vencer o que naquele momento se apresentava. Não importava mais o que seus pais e irmãos diziam, julgavam, pensavam. Importava somente que eles tinham agora um objetivo para vencer. E perdendo um pouco de suas vidas eu fui ganhando a minha.

Bem, meus irmãos talvez tenham mais lembranças da primeira infância do que eu. Lembro muito pouco além daquilo que as fotos registraram, mas o que lembro é suficiente para eu saber que a vida dos meus irmãos também veio de mais vida dada pelos nossos pais. Lembro vagamente de eu, só um ano mais velho, levar o Márcio para a escolinha das Irmãs da Santa Paula. Lembro do meu pai deitado numa cama com um monte de gesso no corpo quando a Daniele ainda era muito pequena. Lembro muito vagamente do carro que ele bateu, e lembro de uma imagem do carro batido. Como não lembro de fotos deste carro, creio que esta imagem do meu pai arrebentado e do carro muito amassado me marcaram. Lembro de alguém tirando faixas de sua perna cheia de pontos. Lembro de dias tristes que minha mãe estava longe. Diziam pra mim que ela estava no hospital e que logo iria voltar, mas acho que demorou muito. Muitos e muitos dias eu e meu irmão Marcio dormindo em nossa tia. E onde estava a Daniele? Não sei. Só sei que foram dias que minha família estava toda separada porque alguém estava lutando muito para viver, e este alguém tinha um homem que nunca vi abandoná-la... Nunca vi abandoná-la! Creio que nestes dias todos o Tiago ainda não tinha nascido porque lembro de conversas quando já estávamos juntos de que o nascimento do Tiago foi envolto de dificuldades. Não sei ao certo, mas sei que foram mais dores para que mais uma vida viesse ao mundo, e mais incertezas. Mesmo assim deste tempo só lembro coisas boas. Lembro do pai chegando em casa com uma Kombi da empresa onde ele trabalhava. Eu gostava tanto daquela Kombi com caçamba... E uma vez vi sobre ela um presente para mim. Era um caminhão que eu estava ganhando do meu avô. Lembro-me da escola, lembro que eu tinha a incumbência de vez em quando pegar um kit de alimentação na escola. Lembro com alegria dos dias que eu ia andando no supermercado ficar na fila do leite. Lembro da minha mãe levantando muito cedo para me ensinar a pegar um ônibus. Lembro da alegria grande dos meus pais quando eu ia bem nas provas. Lembro muito que o pai e a mãe sempre falavam que eu tinha que estudar muito.

Bem, nestas alturas vocês já perceberam que minha memória confunde as coisas no tempo, pois alguns destes fatos foram antes do Tiago nascer e outros depois. Mas não importa a cronologia. Importa o que eu e meus irmãos fomos aprendendo e o que fomos ganhando: nossa vida! Era tão bom quando o pai resolvia deixar a gente pular em cima dele no sofá mesmo que fosse a hora do Jornal Nacional!

Sei que o pai gostava muito, e acho hoje que foi bom que não fosse todo dia. Lembro também de quando o pai estava desempregado e não parava de tentar vencer. Lembro da Kombi do camarão. Fui nela com ele andar pelo Santa Paula. Conheci ruas do nosso bairro que até então eu não conhecia. Foi um tempo muito difícil pelos relatos que escuto. Lembro que não podia sobrar nenhum grão de arroz no prato... tínhamos que aprender a dar valor para o alimento que tínhamos. Lembro que o pai me falou que eu só estava na mesma escola porque deram um bom desconto ou algo assim.

Acredito que foi um tempo de muitas incertezas para o Paulo e Elizete. Mas eles tinham suas vidas e de mais quatro filhos. Tinham que lutar, mesmo que sem toda saúde, e tinham que ter uma família estruturada e feliz. Talvez desta fase da minha vida eu tenha aprendido os maiores valores que até hoje eu tenho pra mim: não existe esforço que não tenha que ser feito para fazer crescer sua família; trabalhar é o que um homem tem que fazer, e ficar ao lado da esposa sempre, sempre que esta precisar.

Vejam que são valores que eu aprendi a partir de gestos, não a partir de palavras.

Aliás, para escrever este texto fiquei tentando lembrar de uma grande frase do meu pai e da minha mãe. Não lembrei. E não lembrei não porque eles não falassem, mas porque o que sei eu não aprendi ouvindo eles, mas vendo eles fazerem.

Quatro filhos pequenos, dificuldades de saúde, dificuldades de trabalho, e o que vi foi um casal que sempre trabalhou para conquistar e vencer, não por eles, mas pelos seus filhos.

Se bem que com alguns erros: até hoje lembro do carrinho de controle remoto Máximus que eu o e Márcio queríamos e o pai não comprou, acredito que pelo mesmo motivo que hoje eu compro aquilo que é prático, que está à mão. Ele acabou comprando umas coleções da "Super Máquina" e do "Esquadrão Classe A". Bem, pai, eu lembro do Máximus e talvez um dia ainda você possa comprar para mim.

Mas o que falar quando ganhei uma bicicleta Caloi Cross num Natal, onde o meu presente foi o último a ser dado? Quanta ansiedade! Meus pais souberam nos encantar!

Lembro do quanto ficou marcado uma boneca pra Daniele, e um castelo ou casa que ela (ou a mãe!) queria!! E os patins da Daniele, então?! Quanto falatório pelos tais patins! Por outro lado lembro da frustração do Márcio por não ganhar o Motorama! Mas, Márcio, tinha uma grande explicação racional: o Motorama era frágil e estragava com facilidade: Ferrorama era melhor! Bem, neste caso o Márcio não se encantou muito, mas ele teve outros momentos.

O Tiago? Bem... do Tiago foi diferente. Como irmão mais velho, e sete anos mais velho, acho que o Tiago ganho tudo que sempre quis!!! Risos!!!! E ele já tinha os videogames!! É o irmão caçula!

Bem, vamos para a adolescência: aí as lembranças aparecem com mais facilidade. Poderia falar de várias, mas o que importa é: sempre fizeram até o que não podiam para termos e fazermos o queríamos e o que precisávamos. E de lá para cá tem sido assim até hoje: ajudando seus filhos a vencerem na vida.

Do meu ponto de vista, de um filho, eu não poderia falar destes 40 anos sem colocar os filhos no centro da história. Sei que o casamento de vocês é muito mais do que os filhos, muito mais. Vocês lutaram por suas vidas. E venceram muitas dificuldades. Vocês lutaram por emprego. Vocês lutaram pelas casas que já tiveram. Vocês lutaram para construir um patrimônio. Vocês lutaram para ter um lugar para viverem esta fase da vida já com os netos. Vocês lutam para cuidar também dos netos. Vocês têm a vocês. E o que conseguiram com tanta luta foi crescerem nas suas almas, mas especialmente o que conseguiram foram quatro filhos que amam demais vocês dois porque devem tudo a vocês, tudo o que somos devemos a vocês! Tudo o que somos é só por causa de vocês e suas dores, flores e amores. Só podemos dizer obrigado a Deus, porque dizer obrigado a vocês é muito pouco. Não há palavras que possam agradecer todos os gestos que nas suas vidas vocês fizeram para ter a família de vocês e seus filhos. Então só gestos da nossa parte é o que importam agora. Espero e, acredito, nós quatro esperamos acertar nos nossos gestos para retribuir um pouco do que fizeram por nós.

Te amamos!

Paulo Cesar Starke Junior
Marcio Roberto Starke
Daniele Starke
Tiago Rafael Starke

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Navio Branco

Rei Henrique, o Belo Erudito, tinha um filho chamado Guilherme, a quem ele carinhosamente amava. O jovem era nobre e corajoso, e todos esperavam que um dia ele fosse o rei da Inglaterra.

Em um verão, o príncipe Guilherme foi com o seu pai até a França, pelo mar, para cuidar de suas terras. Eles foram recebidos com alegria por todo o seu povo de lá, e o jovem príncipe era tão galante e gentil que era amado por todos assim que o viam.

Mas, finalmente, chegou a hora de retornarem para a Inglaterra. O rei, seus conselheiros e seus cavaleiros partiram cedo naquele dia; mas o príncipe Guilherme e seus amigos ficaram um pouco mais. Foi tão divertido o tempo que passaram na França que eles não tinham pressa de partir.

Então, eles embarcaram no navio que estava esperando para levá-los para casa. Era um lindo navio com velas brancas e mastros brancos que havia sido preparado para esta viagem.

O mar estava tranquilo, o vento era razoável e ninguém pensava em perigo. No navio tudo havia sido arranjado para fazer a viagem agradável. Havia música e dança, e todos estavam alegres e felizes.

O sol já tinha se posto antes que a embarcação de velas brancas estivesse bem distante da baía. Era lua cheia e por isso havia luz suficiente; e antes do alvorecer do amanhã, o mar estreito seria atravessado. E então o príncipe e os jovens que estavam com ele entregaram-se à diversão, à comida e aos prazeres.

As primeiras horas da noite passaram e então ouviu-se um grito de perigo no convés. Um momento depois houve uma grande batida. O navio tinha atingido uma rocha. A água entrava rapidamente. O navio estava afundando. Ah! Onde estavam agora aqueles que tinham recentemente estado tão felizes e de corações livres?

Todos os corações estavam cheios de medo. Ninguém sabia o que fazer. Um pequeno barco foi rapidamente lançado, e o príncipe com alguns dos seus mais corajosos amigos pularam dentro dele. Eles o empurraram enquanto o navio estava começando afundar sob as ondas. Eles seriam salvos?

Eles mal tinham remado dez metros do navio, quando houve um grito entre aqueles que foram deixados para trás.

“Remem para trás”, gritou o príncipe. “É minha irmãzinha. Ela deve ser salva!”.

Os homens não ousariam desobedecer. O barco foi novamente trazido para junto do navio que afundava. O príncipe ficou em pé e estendeu seus braços para sua irmã. Naquele momento o navio deu um grande solavanco em direção às ondas. Um grito de terror foi ouvido, e então tudo ficou em silêncio, salvo o som das água agitadas.

Navio e barco, príncipe e princesa, e todo o alegre grupo que tinha zarpado da França foram ao fundo juntos. Um homem agarrou-se a uma tábua flutuante e foi salvo no próximo dia. Ele foi a única pessoa que sobreviveu para contar esta triste história.

Quando o rei Henrique ouviu sobre a morte de seu filho, seu pesar foi maior do que conseguia suportar. Seu coração estava partido. Ele não tinha mais alegria na vida; e os homens diziam que ninguém mais o viu sorrir novamente.

Aqui está um poema sobre ele que seu professor pode ler para você, e talvez, depois de um tempo, você possa decorá-lo.


Ele nunca mais sorriu outra vez

A nau com príncipe foi ao fundo,
Sob as ondas no abismo profundo;
Que glória tens, ó láurea inglesa,
Se ao rei só deixaste a tristeza?
E por muito tempo ele ainda viveu,
Com o coração ferido, envelheceu.
Morte, os que sofrem tu não vês?
Ele nunca mais sorriu outra vez.

Ao rei ofereceram o suntuoso,
O imponente e o corajoso;
Mas preencher o vazio, o que poderia,
A não ser o filho sob ondas bravias?
O jovem e o belo desfilaram,
Todavia ao rei não deleitaram.
O mar envolvia, do filho, a tez.
Ele nunca mais sorriu outra vez.

Sentou-se ante taças festivas;
Ouviu do menestrel as cantigas;
Ele viu os vencedores coroados
E da roda de cavaleiros honrados:
Um murmúrio de profunda agonia,
Unido ao esforço sem alegria,
Um bramido de ventos se fez.
Ele nunca mais sorriu outra vez.

Manteve o coração em clausura
Sob os votos ditos com candura.
Tomaram o lugar do faltante
Em assembleias exuberantes.
O puro amor banhou com o pranto
O túmulo cujo o mar é o manto.
Novas esperanças vieram, talvez;
Mas...
Ele nunca mais sorriu outra vez. (Mrs. Hemans.)


V história extraída do livro “Cinquenta Histórias Famosas Recontadas” de James Baldwin.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Os Filhos de Guilherme, o Conquistador

Houve uma vez um grande rei da Inglaterra que era chamado de Guilherme, o Conquistador, e ele tinha três filhos.

Um dia o rei Guilherme parecia estar pensando em algo que o fazia se sentir muito triste; e os sábios que estavam ao seu redor perguntaram-lhe qual era o problema.

– Eu estou pensando – ele disse – o que meus filhos podem fazer depois que eu morrer. Porque, a menos que eles sejam sábios e fortes, não conseguirão manter o reino que eu construí para eles. De fato, eu estou desorientado em como distinguir qual dos três deve ser o rei quando eu partir.

– Ó rei – disse os sábios –, se nós conhecêssemos quais coisas teus filhos admiram mais, poderíamos, então, ser capazes de dizer que tipo de homens eles serão. Talvez, perguntando a cada um deles algumas questões, nós possamos descobrir qual deles será o mais adequado para governar em teu lugar.

– Ao menos vale a pena tentar – disse o rei. – Mandai os meninos virem diante de vós.

Os sábios conversaram uns com os outros por algum tempo, e então concordaram que os jovens príncipes deveriam ser trazidos um de cada vez e as mesmas questões deveriam ser perguntadas a eles.

O primeiro a vir à sala foi Roberto. Ele era alto, um menino prestativo, e tinha o apelido de Meias Curtas.

– Senhor – disse um dos homens –, responda-me esta questão: Se, em vez de ser um menino, aprouvesse Nosso Senhor que tu fosses um pássaro, que espécie de pássaro tu gostarias de ser?

– Um falcão – respondeu Roberto. – Eu gostaria de ser um falcão porque nenhum outro pássaro recorda tanto um cavaleiro corajoso e galante.

O próximo a vir foi jovem Guilherme, predileto e homônimo de seu pai. Seu rosto era alegre e rechonchudo; e, porque ele tinha cabelo vermelho, seu apelido era Rufus, ou o Ruivo.

– Senhor – disse um sábio –, responda-me esta questão: Se, em vez de ser um menino, aprouvesse Nosso Senhor que tu fosses um pássaro, que espécie de pássaro tu gostarias de ser?

– Uma águia – respondeu Guilherme. – Eu gostaria de ser uma águia porque ela é forte e valente. Ela é temida por todos os outros pássaros, e por isso é soberana de todos eles.

Finalmente veio o irmão mais jovem, Henrique, com passos tranquilos e uma aparência pensativa e sóbria. Ele havia aprendido a ler e a escrever, e por esta razão seu apelido era Beauclerc, ou o Belo Erudito.

– Senhor – disse um sábio –, responda-me esta questão: Se, em vez de ser um menino, aprouvesse Nosso Senhor que tu fosses um pássaro, que espécie de pássaro tu gostarias de ser?

– Um estorninho – disse Henrique. – Eu gostaria de ser um estorninho porque é bem-educado, gentil e uma alegria para todos que o veem, e ele nunca tenta roubar ou abusar do próximo.

Então os sábios conversaram uns com os outros por algum tempo, e quando eles estavam de acordo entre eles, falaram com o rei.

– Nós descobrimos – disseram eles – que seu filho mais velho, Roberto, será corajoso e galante. Ele fará alguns grandes feitos e um nome por si mesmo; mas no final ele será derrotado por seus inimigos e morrerá na prisão.

“O segundo filho, Guilherme, será tão valente e forte como uma águia; mas ele será temido e odiado por seus atos cruéis. Ele levará uma vida perversa e terá uma morte vergonhosa.

O filho mais novo, Henrique, será sábio, prudente e pacífico. Irá para a guerra somente quando for forçado a fazer isto por seus inimigos. Ele será amado em casa e respeitado fora dela; e morrerá em paz após ter ganho grandes posses.”

Anos passaram, os três meninos cresceram e se tornaram homens. O rei Guilherme estava em seu leito de morte e novamente pensou o que seus filhos se tornariam quando ele partisse. Então lembrou-se do que os sábios tinham dito a ele; e então ele declarou que Roberto teria as terras que ele mantinha na França, que Guilherme seria o rei da Inglaterra e que Henrique não teria nenhuma terra, mas somente um baú de ouro.

Então, no final, aconteceu como os sábios tinham previsto. Roberto, Meias Curtas, era corajoso e destemido, como o falcão que ele tanto admirava. Ele perdeu todas as terras que seu pai havia deixado, e no fim foi lançado na prisão, onde foi mantido até a morte.

Guilherme, o Ruivo, era tão autoritário e cruel que era temido e odiado por todo seu povo. Ele levou uma vida perversa e foi morto por um de seus próprios homens enquanto caçava na floresta.

E Henrique, o Belo Erudito, não ficou somente com um baú de ouro, mas tornou-se o rei da Inglaterra e governante de todas as terras que seu pai tinha na França.


IV história extraída do livro “Cinquenta Histórias Famosas Recontadas” de James Baldwin.

O rei Guilherme foi o primeiro rei normando da Inglaterra e seu reinado durou de 1066 a 1087.

Nota de tradução: “Fair” era um dos elementos complementares favoritos para os vocativos do século XVII. Os personagens de Shakespeare estão constantemente dirigindo um ao outro como: “fair sir, fair lady, fair lord, fair gentlewoman, fair coz, fair one, etc” -
A Dictionary of Epithets and Terms of Address – Por Leslie Dunkling