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quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Os Filhos de Guilherme, o Conquistador

Houve uma vez um grande rei da Inglaterra que era chamado de Guilherme, o Conquistador, e ele tinha três filhos.

Um dia o rei Guilherme parecia estar pensando em algo que o fazia se sentir muito triste; e os sábios que estavam ao seu redor perguntaram-lhe qual era o problema.

– Eu estou pensando – ele disse – o que meus filhos podem fazer depois que eu morrer. Porque, a menos que eles sejam sábios e fortes, não conseguirão manter o reino que eu construí para eles. De fato, eu estou desorientado em como distinguir qual dos três deve ser o rei quando eu partir.

– Ó rei – disse os sábios –, se nós conhecêssemos quais coisas teus filhos admiram mais, poderíamos, então, ser capazes de dizer que tipo de homens eles serão. Talvez, perguntando a cada um deles algumas questões, nós possamos descobrir qual deles será o mais adequado para governar em teu lugar.

– Ao menos vale a pena tentar – disse o rei. – Mandai os meninos virem diante de vós.

Os sábios conversaram uns com os outros por algum tempo, e então concordaram que os jovens príncipes deveriam ser trazidos um de cada vez e as mesmas questões deveriam ser perguntadas a eles.

O primeiro a vir à sala foi Roberto. Ele era alto, um menino prestativo, e tinha o apelido de Meias Curtas.

– Senhor – disse um dos homens –, responda-me esta questão: Se, em vez de ser um menino, aprouvesse Nosso Senhor que tu fosses um pássaro, que espécie de pássaro tu gostarias de ser?

– Um falcão – respondeu Roberto. – Eu gostaria de ser um falcão porque nenhum outro pássaro recorda tanto um cavaleiro corajoso e galante.

O próximo a vir foi jovem Guilherme, predileto e homônimo de seu pai. Seu rosto era alegre e rechonchudo; e, porque ele tinha cabelo vermelho, seu apelido era Rufus, ou o Ruivo.

– Senhor – disse um sábio –, responda-me esta questão: Se, em vez de ser um menino, aprouvesse Nosso Senhor que tu fosses um pássaro, que espécie de pássaro tu gostarias de ser?

– Uma águia – respondeu Guilherme. – Eu gostaria de ser uma águia porque ela é forte e valente. Ela é temida por todos os outros pássaros, e por isso é soberana de todos eles.

Finalmente veio o irmão mais jovem, Henrique, com passos tranquilos e uma aparência pensativa e sóbria. Ele havia aprendido a ler e a escrever, e por esta razão seu apelido era Beauclerc, ou o Belo Erudito.

– Senhor – disse um sábio –, responda-me esta questão: Se, em vez de ser um menino, aprouvesse Nosso Senhor que tu fosses um pássaro, que espécie de pássaro tu gostarias de ser?

– Um estorninho – disse Henrique. – Eu gostaria de ser um estorninho porque é bem-educado, gentil e uma alegria para todos que o veem, e ele nunca tenta roubar ou abusar do próximo.

Então os sábios conversaram uns com os outros por algum tempo, e quando eles estavam de acordo entre eles, falaram com o rei.

– Nós descobrimos – disseram eles – que seu filho mais velho, Roberto, será corajoso e galante. Ele fará alguns grandes feitos e um nome por si mesmo; mas no final ele será derrotado por seus inimigos e morrerá na prisão.

“O segundo filho, Guilherme, será tão valente e forte como uma águia; mas ele será temido e odiado por seus atos cruéis. Ele levará uma vida perversa e terá uma morte vergonhosa.

O filho mais novo, Henrique, será sábio, prudente e pacífico. Irá para a guerra somente quando for forçado a fazer isto por seus inimigos. Ele será amado em casa e respeitado fora dela; e morrerá em paz após ter ganho grandes posses.”

Anos passaram, os três meninos cresceram e se tornaram homens. O rei Guilherme estava em seu leito de morte e novamente pensou o que seus filhos se tornariam quando ele partisse. Então lembrou-se do que os sábios tinham dito a ele; e então ele declarou que Roberto teria as terras que ele mantinha na França, que Guilherme seria o rei da Inglaterra e que Henrique não teria nenhuma terra, mas somente um baú de ouro.

Então, no final, aconteceu como os sábios tinham previsto. Roberto, Meias Curtas, era corajoso e destemido, como o falcão que ele tanto admirava. Ele perdeu todas as terras que seu pai havia deixado, e no fim foi lançado na prisão, onde foi mantido até a morte.

Guilherme, o Ruivo, era tão autoritário e cruel que era temido e odiado por todo seu povo. Ele levou uma vida perversa e foi morto por um de seus próprios homens enquanto caçava na floresta.

E Henrique, o Belo Erudito, não ficou somente com um baú de ouro, mas tornou-se o rei da Inglaterra e governante de todas as terras que seu pai tinha na França.


IV história extraída do livro “Cinquenta Histórias Famosas Recontadas” de James Baldwin.

O rei Guilherme foi o primeiro rei normando da Inglaterra e seu reinado durou de 1066 a 1087.

Nota de tradução: “Fair” era um dos elementos complementares favoritos para os vocativos do século XVII. Os personagens de Shakespeare estão constantemente dirigindo um ao outro como: “fair sir, fair lady, fair lord, fair gentlewoman, fair coz, fair one, etc” -
A Dictionary of Epithets and Terms of Address – Por Leslie Dunkling

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